O SONHO SE FEZ PROJETO

No princípio era o barro...

No barro havia um sonho...

E o sonho se fez projeto!


O que para uma pessoa sozinha ou para um pequeno grupo, poderia parecer impossível, tornou-se possível, com a articulação de pessoas, grupos e entidades. Foi assim que nasceu a REDE DE AMIG@S DAS CRIANÇAS E D@S ADOLESCENTES no bairro Belém Novo, na Escola Madre Raffo. Lá reunimos pessoas de boa vontade que desejavam ajudar na manutenção do trabalho filantrópico das Irmãs Filhas de Maria Santíssima do Horto, concretamente, o trabalho iniciado com crianças e adolescentes no assentamento Sertão II. Registramos oficialmente a Rede de Amig@s e, surpreendentemente, as coisas foram acontecendo, as pessoas e as ajudas foram chegando. A primeira entidade a participar deste projeto foi a Escola Madre Raffo, vários professores e funcionários se empenharam com trabalho e contribuição. Dali em diante os amig@s continuaram chegando... Chegou Marcos Pedrini e família, chegou a Paróquia Dom Orione, chegou o Colégio Mãe de Deus, chegou a Ir. Ana Maria Andreola de Roma e com ela a possibilidade da integração do Projeto de Adoção a Distância, chegaram os Amigos Italianos... Chegou a Associação Instrução Educação e Caridade – AIEC.

Não haviam, ainda, chegado todos os amig@s quando decidimos comprar o primeiro terreno para a construção da "Creche" e, obviamente, não tínhamos o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) cobrados pela senhora Elizete Veber do Nascimento pelo espaço. Por Providência, e não por coincidência, em 2003, passava pelo Brasil a Madre Antonietta Capelli, superiora geral das FMH, e quis conhecer a localidade. Ela não só gostou muito da ação que ali realizávamos como completou o valor que faltava para a compra do terreno. Traços Gianellinos mais fortes começam a marcar a história do Sertão II. Antes dela, já havíamos conquistado o apoio da Ir. Gelma Dalmás, superiora provincial do Brasil, que foi uma grande incentivadora do projeto, e foi durante o seu governo, no ano de 2006, que as Irmãs vieram morar no Sertão II, formando uma comunidade religiosa. Fizeram parte desta primeira comunidade as irmãs: Angela Maria Pientznauer, Nanúbia Candido da Silva e Raquel Pena Pinto. Gianellinas JUNTAS, em Caridade Evangélica Vigilante, como “Consagradas e enviadas a serviço do Reino de Deus”, tornaram-se fios preciosos nesta rede de solidariedade.

O primeiro terreno adquirido ficava no fim da área ocupada, para chegar nele era preciso amassar muito barro. Lembro-me do engenheiro Leo Plentz na sua primeira visita para planejar a construção, que dizia, ao encher o sapato de lama, ser uma loucura construir no meio do barro e num terreno sem consistência. Foi então, que começamos pelo aterro, depois a cerca e no final de julho de 2003 começamos o alicerce do primeiro prédio, compramos o material necessário na Madeireira Irmãos Luz em seis parcelas, e não tínhamos os R$ 600,00 (seiscentos reais) para a mão de obra do Sr. Jairo. Desde então, começamos experimentar grande e fortemente o milagre da partilha e da solidariedade.

Algo muito inspirador nesse contexto todo é o episódio do "milagre da multiplicação dos pães”, que podemos encontrar nos quatro evangelhos com nuances diferentes, mas com uma realidade em comum: um povo que sofre a margem de um sistema que produz pessoas cada vez mais empobrecidas e Jesus de Nazaré, o Filho de Deus, tem compaixão do povo que sofre; seus discípulos percebem a carência e não sabem saber como fazer. O Mestre manda que eles mesmos deem jeito na situação através do imperativo: “dai-lhes vós mesmos o que comer”. Nós, discípul@s missionárias, precisamos estar atentas às necessidades das pessoas excluídas, mas não dá para parar por aí, não dá para parar na compaixão, é preciso ir além, é preciso responder de forma operativa, porque o amor é e sempre será operativo! E no impasse entre o povo faminto, Jesus e os seus discípulos, aparece na figura de um menino frágil por sua idade e condição: “tem cinco pães e dois peixes” (Jo 6,8). É tudo o que tem. Ele entrega e dá origem ao que levará a solução do problema.

Éramos como aquele menino frágil da narrativa, mas tínhamos cinco pães e dois peixes e estes continuaram e continuam sendo oferecidos: A professora Leonete Cassol doou um celular para que fizéssemos a primeira ação entre amigos, desta ação arrecadamos o valor de R$ 6.333,00 (seis mil, trezentos e trinta e três reais) com números vendidos no Colégio Mãe de Deus, Escola Madre Raffo, Horto de Dom Pedrito e Horto de Uruguaiana. Com isso, não só o alicerce estava garantido, mas também a segunda etapa da obra. Concomitantemente a isso aconteceram o I e o II Jantar da Solidariedade. A Campanha dos tijolinhos nas mesmas escolas citadas, festival de sorvete que começou sendo organizado no Colégio Mãe de Deus e posteriormente na Escola Madre Raffo encabeçado pela Mírian Caldas e Eunice D'Ávila, entre outras. A solidariedade se alastra, se organiza e o sonho vai se concretizando pela ação solidária de muit@s.

A alegria invadiu o nosso coração no dia 12 de abril de 2004, segunda-feira de Páscoa, aniversário de nascimento de nosso Fundador Santo Antônio Gianelli, dia que marcou o surgimento de mais uma obra Gianellina, obra que nasce com o objetivo de proporcionar espaços educativos para crianças, adolescentes e mulheres em situação de risco social a busca de melhores condições de vida.

No ato inaugural, com a presença de amig@s e parcerias, ressaltou-se o contexto sócio-político-econômico, no qual muitos não têm suas necessidades básicas atendidas e sofrem com os efeitos da exclusão. As dificuldades enfrentadas pela população empobrecida, especificamente a comunidade do Assentamento Sertão II, ilustram o quadro de injustiças, destacando-se a falta de creches, de escola, de alimento, de atendimento à saúde, de moradia, além do desemprego, da violência, tornando-se assim, um lugar especial para operacionalizarmos a Caridade Evangélica Vigilante.

O Centro Social nasce com “cheiro e gosto de solidariedade”, foi construído graças às parcerias, doações, pequenos e grandes gestos solidários de muitas pessoas envolvidas como poderemos ver no quadro de doações recebidas de junho de 2003 a abril de 2004.

Ir. Raquel Pena Pinto, FMH